Tudo começa algum dia.
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Pois é... Um casal pseudo-intelecutual-pós-moderno.
João era um cara Cult, vestia calças quadriculadas, camiseta de botão ouvia som retro e conversava sobre a influência da mídia no comportamento humano. Cassandra também era outra pessoa Cult, usava vestidos com estampas coloridas, sandálias de couro e acessórios feitos de produtos reciclados. Ah, Cassandra também gostava de discutir a influência da mídia no comportamento humano.
Um dia, em um dois passeios pelo parque, João notou uma menina com vestido de estampa colorida e uma placa com os dizeres: “Leiam Castro Alves, Machado de Assis, Cecília Meireles. Dan Brown não é cultura”. E João foi conversar com ela.
-Oi – disse João.
-Olá – respondeu Cassandra.
-Eu sou João e também não gosto do Dan Brown. Posso fazer parte do seu protesto? – perguntou o rapaz.
-Você já leu Machado? – indagou Cassandra.
- “Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?”– João declamou para Cassandra.
João não precisou dizer mais nada. Desse dia em diante os dois começaram a sair juntos. Um dia Cassandra virou para o garoto e o pediu em namoro. Ela era uma mulher moderna e desencanada. Não tinha problemas em fazer o pedido. João era tímido e enrolado, ele ficou vermelho, respirou fundo e respondeu:
-Desde o dia que eu vi você com aquele cartaz na mão.
Quando o namoro começou os seus amigos estranharam. Como pode duas pessoas tão parecidas ter um relacionamento? Cassandra, que era moderna, sempre respondia:
-Nós somos um casal com intelecto elevado. Não ligamos para essas crendices.
João, que era tímido, sempre concordava. Ele a amava, mas ela era tão moderna. Tão moderna que um dia ela teve a certeza que o seu amor por João não passava de um impulso que mídia impõe aos seres humanos. Então ela acabou o namoro. João sofreu, sofreu e sofreu.
Aquele rapaz Cult parou de discutir a respeito de conspirações e foi se casar. Ele teve um casamento feliz, dois filhos e um papagaio. E aquela moça moderna está até hoje por aí: lutando contra a influência da mídia nos seres humanos. Mas dizem, também, que até hoje ela anda por aí lutando pelas injustiças do mundo, mas muito, muito infeliz. Alguns acham que ela deveria tentar análise.
Eu não darei minha opinião, isso são apenas histórias que se ouve por aí em mesas de bar. Poesia: Livros e flores de Machado de Assis.