É impressionante – pensou Marcos. Muito impressionante – continuou o menino – diria até interessante como as fórmulas antigas de se fazer TV ainda dão tão certo. Alguém já parou e observou? Era um dia de chuva, frio, mas quente. Ou seja, um dia bem parado. Ele estava na casa de sua avó e ela, como toda fã número um de fórmulas antigas, estava assistindo ao programa de auditório de final de tarde. Fórmula velha porque segue o mesmo raciocínio de outros programas do gênero apelativo. Assim, um telespectador liga, conversa com o apresentador e participa de alguma brincadeira ao vivo para ganhar algum dinheiro como recompensa. A avó do Marcos, que estava contando com a sua presença, deleitava-se com a participação de alguns conhecidos.
Bloco após bloco, reportagem após reportagem (reportagem?) as cenas vão se repetindo e um nó na garganta de Marcos vai crescendo. E a esta altura a sala já está lotada. O melhor são os quadros em que algum pobre coitado envia uma carta (emocionante) contando seu drama. Claro que são histórias reais, de cortar o coração de qualquer pessoa. É obvio que quem envia tais cartas são gente de ótima qualidade. Simples, ingênuas (por que não?), de bom coração e, é claro, sofrida.
Sem mais para pensar ou comentar com sua família, e que quase chora com o caso, real, contado nesse programa apelativo, e sem querer induzir ninguém a nada, Marcos deixa sair um comentário: “Quem (re) produz essas fórmulas antigas são pessoas simples, ingênuas, de bom coração e sofridas?” Depois dessa deixa Marcos vai para casa. Ele estava com vontade de vomitar.
Parto
Há 7 anos